Fundamentos de Filosofia
(...) Para realizar uma boa investigação filosófica não podemos deixar de considerar o que outras ciências estão dizendo a respeito de nosso objeto de estudo e reflexão, seja ele qual for.
No caso da felicidade, resultados de pesquisas realizadas em diversas áreas podem lançar novas luzes sobre nossa investigação e, quem sabe, ajudar-nos a desfazer alguns mitos sobre esse tema.
Componente físico: embora a felicidade seja entendida normalmente como um estado de consciência, ela parece ter também correspondente físico, que pode ser identificado e medido em termos de ondas cerebrais (os epicuristas adorariam saber disso). Estudos de neurofisiologia realizados nos últimos anos em pessoas de todas as idades, inclusive bebês, indicam que a atividade de certa parte do cérebro aumenta quando a pessoa experimenta sensações ou sentimentos agradáveis ou se expressa de maneira positiva, como ao sorrir.
Também há evidências científicas de que algumas substâncias produzidas pelo nosso corpo – como a serotonina e a endorfina – estão relacionadas com as sensações de paz, prazer e bem-estar que experimentamos.
Há estudos que nos fazem igualmente supor que existe um fator de predisposição genética para algumas pessoas experimentarem a vida de maneira mais positiva que outras. Dois idênticos (que têm material genético idêntico) ofereceram um grau de felicidade bastante semelhante, mesmo quando criados em casas diferentes, o que não ocorre com os não idênticos (em que apenas metade dos genes é igual). essa é uma questão complexa, que deve ser tratada com muito cuidado.
A saúde corporal também é um fator importante para nossa felicidade. no entanto, mesmo em condições desfavoráveis de saúde, como demonstram algumas investigações, já que as pessoas depois de algum tempo tendem a se adaptar às especificações físicas surgidas durante suas vidas, podendo manter um bom nível de satisfação a partir de então.
A relação saúde-felicidade pode seguir, porém, direção inversa: resultados de pesquisas recentes revelam que uma pessoa feliz tende a ser mais saudável, a ter um sistema imunológico mais forte e a viver mais anos. ou seja, em vez de o físico determinar o psíquico, é o psíquico que determina o físico, o que parece inverter a lógica até há pouco predominante nas ciências. A relação corporal é um problema importante da história da filosofia. Como será que interagem essas duas dimensões de nossa existência?
Componente psicológico: Desde o surgimento da psicanálise, com Sigmund Freud, entende-se que os primeiros anos de vida são fundamentais para o modo como uma pessoa experimentará sua existência. Episódios traumáticos e dolorosos podem limitar suas possibilidades de desenvolvimento de experiências experimentais. Por outro lado, também se considera que os modelos psicológicos e de conduta que uma pessoa encontra em seu meio familiar imprimem-se em sua psique (ou em seu cérebro) e tendem a ser repetidos durante toda a vida. Portanto, se esses modelos são negativos, limitantes, existe probabilidade maior de que uma pessoa desenvolva uma existência infeliz, se ela não tiver consciência desses padrões e não puder retrabalhá-los.
Na verdade, vários estudos no campo da psicologia confirmaram que saber nutrir os próprios pensamentos e sentimentos é fator crucial para a felicidade de um indivíduo. A dimensão interior – o conjunto de crenças, valores, estados de ânimo, maneira de ver a vida – influi de forma contundente na construção de uma existência feliz ou infeliz (quase toda a filosofia grega aplaudiria em pé essa conclusão). Muitas vezes, o que se chama de “sorte” não é outra coisa senão o resultado de um estado de ânimo mais aberto e propício para perceber e aproveitar as oportunidades que surgem na vida.
Qual será a importância do autoconhecimento nesse sentido?
COTRIM, Gilberto; FERNANDES Mirna. Fundamentos de Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 32 e 33.
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