Crítias (Mito de Atlântida) - PLATÃO

 [...] Detinham riquezas em número tão elevado como nunca houve em quaisquer dinastias de reis anteriores nem é fácil que haja nas que se sigam, pois estavam providos de tudo do que havia necessidade garantir à cidade e ao resto do território. Com efeito, ainda que muito viesse de fora, por causa do império, a própria ilha fornecia a grande maioria dos bens essenciais. Em primeiro lugar, tudo quanto fosse sólido e fundível era extraído pelo ofício mineiro, bem como aquilo que actualmente apenas nomeamos – naquela altura, mais do que um nome, existia a substância: o oricalco51, que era extraído em vários locais da ilha, o qual naquela altura era, à parte o ouro, o material mais valioso –, e a floresta fornecia tudo quanto pudesse ser trabalhado pelos carpinteiros. A ilha produzia tudo em abundância, e, no que respeita aos animais, alimentava convenientemente os domesticados e os selvagens, incluindo a raça dos elefantes que nela existia em grande número.

[...]

Mas quando a parte divina neles se começou a extinguir, em virtude de ter sido excessivamente misturada com o elemento mortal, passando o carácter humano a dominar, então, incapazes de suportar a sua condição, caíram em desgraça e, aos olhos de quem tem discernimento pareciam desavergonhados, pois haviam destruído os bens mais nobres que advêm da honra. Mas aos olhos daqueles que não conseguem discernir a conduta que corresponde à verdadeira felicidade davam a impressão de ser extremamente belos e felizes, mas estavam impregnados de uma arrogância injuriosa e de poder. O deus dos deuses – Zeus – que reina por meio de leis, como tem capacidade para discernir este tipo de acontecimentos, apercebeu-se de que uma estirpe íntegra estava organizada de um modo lastimoso. Então decidiu aplicar-lhes uma punição, de modo a que eles se tornassem razoáveis e moderados. (114 E; 121 B-C)


(PLATÃO - Timeu-Crítias / Platão ; trad. DE Rodolfo Lopes. - 3ª ed. - Coimbra : Imprensa da Universidade de Coimbra, 2013.)


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