De Institutione musica – BOÉCIO - (Música em Pitágoras e Platão)
Disso resulta que, sendo quatro as disciplinas matemáticas, as outras se dedicam precisamente à busca da verdade, enquanto a música não só está associada à especulação, mas também à moral. Nada é tão típico da humanidade como relaxar-se com modos doces ou tornar-se tenso com os contrários. E esse fato não se restringe a uma ocupação ou a uma idade específica, mas se difunde por todas as ocupações; além disso, as crianças, os jovens e até mesmo os velhos são ligados aos modos musicais com espontânea disposição, de forma tão natural que, sem exceção, não há idade que seja contrária ao encanto de uma doce canção.
Daí, então, pode-se perceber que não é desarrazoado o dizer de Platão: a alma do mundo foi unida de acordo com uma harmonia musical. Consequentemente, quando nosso interior está coeso e convenientemente ajustado, percebemos o que nos sons está ajustado de forma exata e conveniente e nos deleitamos com isso; também comprovamos que nós mesmos somos regidos pela mesma semelhança. Essa semelhança é, sem dúvida, agradável, e a dessemelhança é odiosa e repulsiva.
[...]
A tal ponto era conhecida a força da arte musical nos estudos da filosofia antiga, que os pitagóricos, quando queriam se libertar das preocupações do dia com o sonho, usavam certas canções para que se apoderasse deles um suave e tranquilo torpor. Igualmente, quando se levantavam, purgavam a tonteira e a confusão do sono com modos diferentes, pois sabiam com certeza que toda a engrenagem de nossa alma se une com um ajuste musical. Com efeito, segundo as emoções do corpo, excitam-se os pulsos com os movimentos do coração. Diz-se que Demócrito, que estava, na opinião de seus concidadãos, louco, ensinou isso ao seu médico
Hipócrates, que o visitou no cárcere para tratá-lo.
(BOÉCIO. De Institutione musica. In. CASTANHEIRA, C. P. De institutione musica, de Boécio
- livro I: tradução e comentários. (dissertação de mestrado), UFMG, 2009. P. 49-52 e 60-62.)
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