As pequenas chances

 "A morte me diz que foi pouco, embora tenha sido tanto; a morte me diz que eu quase não filmei meu pai, a voz dele, seus gestos. A morte me diz que tirei da câmera do celular o modo “live” para economizar memória (economizar memória), e então perdi segundos de movimento, perdi gestos dele que poderiam estar completos em imagens e pequenos filmes.

A morte me diz que não há mais abraço de pai, que nunca mais haverá; a morte é a morte do cheiro, nunca mais, da presença, do tempo. A morte sussurra o não, minha insuficiência; embora tenha sido tanto, foi tão pouco, pai. É sempre tão pouco perto do nunca mais. E nunca mais é tanto tempo."


TIMERMAN, NataliaAs pequenas chancesSão Paulo: Todavia, 2023

 

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