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Mostrando postagens de maio, 2025

Parábola do Velho do Forte - Lieh-Tsé

 Um velho vivia com seu filho em um forte abandonado, no alto de um monte, e um dia perdeu um cavalo. Os vizinhos vieram-lhe expressar seu pesar por esse infortúnio, e o velho perguntou: – Como sabeis que é má sorte? Poucos dias mais tarde voltou seu cavalo com um bando de cavalos selvagens, e vieram os vizinhos felicitá-lo por sua boa sorte, e o velho respondeu: – Como sabeis que é boa sorte? Com tantas montarias a seu alcance, começou o filho a cavalgá-las, e um dia quebrou uma perna. Vieram os vizinhos apresentar-lhes condolências, e o velho respondeu: – Como sabeis que é má sorte? No ano seguinte houve uma guerra, e, como o filho do velho era agora inválido, não teve de ir para a frente. (YUTANG, Lin. A importância de viver. São Paulo: Círculo do livro, 1975. p. 154.)

O Ser e o Nada – Sartre

 O Futuro que tenho-de-ser, ao contrário, é de tal ordem em seu ser que somente posso sê-lo: porque minha liberdade o corrói em seu ser por debaixo. Significa que o Futuro constitui o sentido de meu Para-si presente, como o projeto de sua possibilidade, mas não determina de modo algum meu Para-si por-vir, já que o Para-si está sempre abandonado nesta obrigação nadificadora de ser o fundamento de seu nada. O Futuro não faz mais que pré-esboçar os limites nos quais o Para-si se fará ser como fuga presentificadora (présentificante) ao ser rumo ao outro futuro. É o que eu seria se não fosse livre, e o que só posso ter-deser porque sou livre. O Futuro, ao mesmo tempo que aparece no horizonte para me anunciar o que sou a partir do que serei ("O que está fazendo?"; "Estou pregando esse tapete, pendurando esse quadro na parede"), por sua natureza de futuro presente-para-si, se desarma, já que o Para-si que será, o será à maneira de se determinar a si mesmo a ser, e o Futuro...

O Eterno Retorno – F. Nietzsche

 "E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada...

O Mundo Como Vontade e Como Representação - Schopenhauer (W I, § 55, p. 349-350).

Embora tudo possa ser visto como irrevogavelmente predeterminado pelo destino, todavia isto só o é pela cadeia de causas. Por isso, em caso algum pode ser determinado que um efeito entre em cena sem causa. Assim, o acontecimento não está predeterminado sem mais nem menos, mas o acontecimento como resultado de causas prévias: logo, o que é selado pelo destino não é só o resultado, mas também os meios pelos quais o resultado está destinado a aparecer. Em consequência, se os meios não entram em cena, decerto o resultado também não: ambos sempre seguem a determinação do destino, que todavia só conhecemos depois.  (SCHOPENHAUER, A. O mundo como vontade e como representação, Tomo I, 2ª edição revisada, tradução de Jair Barboza. São Paulo: UNESP, 2015.)

A Cidade de Deus – Santo Agostinho (Livro 5, Capítulo 1)

 A causa da grandeza do Império Romano não é evidentemente  fortuita nem fatal no sentido ou opinião dos que chamam fortuitos aos acontecimentos que não têm causa ou não provêm de uma ordem racional, e fatais aos que resultam necessariamente de certa ordem independente  da vontade de Deus e dos homens. É seguramente a Providência divina que estabelece os reinos humanos. Se alguém o atribuir ao destino, chamando «destino» à própria vontade oui omnipotência de Deus, pois mantenha a sua opinião mas corrija a linguagem. Porém, porque é que não diz logo de início o que virá a dizer quando se lhe perguntar a que é que chama «destino»? Na verdade, quando a ouvem, os homens tomam esta palavra no sentido usual e não pensam senão na força da posição dos astros tal qual como ela se apresenta quando alguém nasce ou é concebido.  Alguns consideram-na, a essa força, alheia e outros, subordinada à vontade de Deus. Mas aqueles para quem os astros decidem, sem a vontade de Deus, do q...

Meditações – Marco Aurélio. (Livro III, seção 4)

 Não consumas a parte da vida que te resta fazendo conjecturas sobre outras pessoas, a não ser que teu objetivo aponte para o bem comum; porque certamente te privas de outra tarefa. Ao querer saber, ao imaginar o que faz fulano e por que, e o que pensa e o que trama e tantas coisas semelhantes que provocam teu raciocínio, tu te afastas da observação do teu guia interior. Convém, consequentemente, que, no encadear das tuas ideias, evites admitir o que é fruto do azar e supérfluo, mas muito mais o inútil e pernicioso. Deves também acostumar-te a ter unicamente aquelas ideias sobre as quais, se te perguntassem de súbito “em que pensas agora?”, com franqueza pudesses responder no mesmo instante “nisso e naquilo”, de maneira que no mesmo instante se manifestasse que tudo em ti é simples, benévolo e próprio de um ser isento de toda cobiça, inveja, receio ou qualquer outra paixão, da qual pudesses envergonhar-te ao reconhecer que a possui em teu pensamento. Porque o homem com essas caract...

Odisseia - Homero (Canto XIX, versos 103-150)

 Encontro de Penélope e Odisseu  Veio, então, nela assentar-se Odisseu, sofredor de trabalhos. Dá logo início ao discurso a sensata e prudente Penélope: “Ora pretendo fazer-te, estrangeiro, umas tantas perguntas. Qual o teu povo e o teu nome, teus pais, a cidade em que moras?” Disse-lhe, então, em resposta, o prudente e sofrido Odisseu: “Nobre mulher, nenhum homem te pode lançar qualquer pecha, em toda a terra, por ter atingido tua glória o céu vasto, como se fora de rei sem defeitos e aos deuses temente, que sobre muitos e fortes vassalos domínio tivesse e distribuísse a justiça. O chão negro produz-lhe abundante trigo e cevada, vergadas de frutos as árvores grandes; constantemente, lhe dá peixe o mar, as ovelhas dão cria, pelo governo excelente, feliz encontrando-se o povo. Por isso mesmo, em tua casa interrogas-me acerca de tudo, mas não me faças perguntas respeito a meus pais, minha pátria, para que não me renoves as dores que o peito me oprimem, com recordá-las. Sou muito...

A Cartomante - Machado de Assis

 HAMLET observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras. — Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade... — Errou! interrompeu Camilo, rindo. — Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria... Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos p...

Ondas do Acaso - Fabio Brazza

 Quando a vida nos apronta  Alternando nosso rumo  Quando os ventos sopram contra  E nos faz perder o prumo Quando a solidão que afronta  Trazer junto a tempestade  Nunca mais o barco encontra  O cais da felicidade A vida não esta pronta  Cada dia é uma lição  As coisas são o que são  O resto é por nossa conta  E até que eu encontre o raso onde possa ancorar  Pelas ondas do acaso vou tentando navegar Até que eu encontre o raso onde possa ancorar  Pelas ondas do acaso vou tentando navegar Nos encontros com o mundo  Vou moldando meu destino  E assim a cada segundo  Eu aos poucos me defino Seja por vontade minha  Ou por obra do divino  Mas no fim de cada linha  Sempre sou eu que assino Eu não sei qual é a razão  Nem procuro responder  Penso apenas em viver  E cumprir minha missão  Até que se acabe o prazo e eu não possa mais cantar  Pelas notas do acaso vou tentando me ar...

2° encontro com o tema "Destino"

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 Você acredita em Destino?  Nosso segundo encontro terá o destino como tema e acontecerá na próxima quarta-feira (14/05) às 14:00 no lab. 6.  Venha participar!