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Mostrando postagens de junho, 2025

Amor Líquido - ZYGMUNT BAUMAN

A vida consumista favorece a leveza e a velocidade. E também a novidade e a variedade que elas promovem e facilitam. É a rotatividade, não o volume de compras, que mede o sucesso na vida do homo consumens. Em geral, a capacidade de utilização de um bem sobrevive à sua utilidade para o consumidor. Mas, usada repetidamente, a mercadoria adquirida impede a busca por variedade, e a cada uso a aparência de novidade vai se desvanecendo e se apagando. Pobres daqueles que, em razão da escassez de recursos, são condenados a continuar usando bens que não mais contêm a promessa de sensações novas e inéditas. Pobres daqueles que, pela mesma razão, permanecem presos a um único bem em vez de flanar entre um sortimento amplo e aparentemente inesgotável. Tais pessoas são os excluídos na sociedade de consumo, os consumidores falhos, os inadequados e os incompetentes, os fracassados — famintos definhando em meio à opulência do banquete consumista. Aqueles que não precisam se agarrar aos bens por muito t...

Hipótese da Simulação – NICK BOSTROM

Muitas obras de ficção científica, bem como algumas previsões feitas por tecnólogos e futurólogos sérios, prevêem que, no futuro, haverá uma enorme capacidade computacional disponível. Suponhamos, por um momento, que essas previsões estejam corretas. Uma coisa que as gerações futuras poderiam fazer com seus computadores superpotentes seria executar simulações detalhadas de seus antepassados ou de pessoas semelhantes a eles. Como seus computadores seriam tão potentes, eles poderiam executar um grande número dessas simulações. Suponha que essas pessoas simuladas sejam conscientes (como seriam se as simulações fossem suficientemente detalhadas e se uma certa posição amplamente aceita na filosofia da mente estivesse correta). Então, poderia ser o caso de que a grande maioria das mentes como as nossas não pertença à raça original, mas sim a pessoas simuladas pelos descendentes avançados de uma raça original. É então possível argumentar que, se fosse esse o caso, seria racional pensar que pr...

Manifesto Ciborgue - DONNA HARAWAY

Tecnologias de comunicação e as biotecnologias são ferramentas cruciais no processo de remodelação de nossos corpos. Essas ferramentas corporificam e impõem novas relações sociais para as mulheres no mundo todo. As tecnologias e os discursos científicos podem ser parcialmente compreendidos como formalizações, isto é, como momentos congelados das fluidas interações sociais que as constituem, mas eles devem ser vistos também como instrumentos para a imposição de significados. A fronteira entre ferramenta e mito, instrumento e conceito, sistemas históricos de relações sociais e anatomias históricas dos corpos possíveis (incluindo objetos de conhecimento) é permeável. Na verdade, o mito e a ferramenta são mutuamente constituídos. Além disso, as ciências da comunicação e as biologias modernas são construídas por uma operação comum – a tradução do mundo em termos de um problema de codificação, isto é, a busca de uma linguagem comum na qual toda a resistência ao controle instrumental desapare...

Marcuse e o Homem Unidimensional (Artigo - Revista Katál)

O homem unidimensional, para Marcuse (1982), refere-se principalmente a um modo de vida condizente com o capitalismo vigente e também se expande de forma consensual e com grande tendência totalizante pelo tecido social: de um lado, esse "homem" faz avançar os pressupostos do mercado pelo território econômico, social, político, cultural, científico, tecnológico etc. De outro, avança ainda pelo território subjetivo, notadamente pela produção do desejo inconsciente. Daí que essa "unidimensionalidade" está atualmente pelos quatro cantos do planeta: ela está praticamente em todos os lugares e em lugar algum. [...] Para Marcuse (1981, 1982, 1999), a sociedade globalizada é a do homem unidimensional e também da sociedade tecnológica avançada. Portanto, apesar da automação e da tecnologia atual nos dar condições para romper com o trabalho alienado, infelizmente é o contrário que se vê: a globalização lança mão desses fatores e exerce um controle poderoso sobre os diferentes...

A Questão da Técnica – HEIDEGGER

 A técnica não é a mesma coisa que a essência da técnica. Quando procuramos a essência da árvore, devemos estar atentos para perceber que o que domina toda árvore enquanto árvore não é propriamente uma árvore, possível de ser encontrada entre outras árvores. Assim, pois, a essência da técnica também não é de modo algum algo técnico. E por isso nunca experimentaremos nossa relação para com a sua essência enquanto somente representarmos e propagarmos o que é técnico, satisfizermo-nos com a técnica ou escaparmos dela. Por todos os lados, permaneceremos, sem liberdade, atados à ela, mesmo que a neguemos ou a confirmemos apaixonadamente. Mas de modo mais triste estamos entregues à técnica quando a consideramos como algo neutro; pois essa representação, à qual hoje em dia especialmente se adora prestar homenagem, nos torna completamente cegos perante a essência da técnica. A essência de algo vale, segundo antiga doutrina, pelo que algo é. Questionamos a técnica quando questionamos o que ...

Fundamentos de Filosofia – Gilberto Cotrim

 [...] Outras questões concernentes à ciência ainda surgem no mundo contemporâneo. Elas dizem respeito ao sentido, ao valor e aos limites éticos do conhecimento científico nos contextos das sociedades. Uma parte da filosofia contemporânea tem-se dedicado à análise dos rumos tomados pelo conhecimento científico e sua aplicação prática, isto é, o desenvolvimento tecnológico. Vejamos alguns pontos dessa análise. dominação social. Nos filósofos da Escola de Frankfurt, a crítica do papel da ciência e da tecnologia no mundo atual está vinculada à crítica da própria razão contemporânea, dominadora e manipuladora – uma razão instrumental. Segundo essa interpretação, essa racionalidade – que, a partir dos ideais iluministas, apresentava-se como libertadora – passou a servir à dominação e à destruição da natureza. A vida dos indivíduos também foi submetida a mecanismos de racionalização, como a especialização do trabalho nas indústrias, que se apresentou como científica, isto é, neutra, desi...

Crítias (Mito de Atlântida) - PLATÃO

 [...] Detinham riquezas em número tão elevado como nunca houve em quaisquer dinastias de reis anteriores nem é fácil que haja nas que se sigam, pois estavam providos de tudo do que havia necessidade garantir à cidade e ao resto do território. Com efeito, ainda que muito viesse de fora, por causa do império, a própria ilha fornecia a grande maioria dos bens essenciais. Em primeiro lugar, tudo quanto fosse sólido e fundível era extraído pelo ofício mineiro, bem como aquilo que actualmente apenas nomeamos – naquela altura, mais do que um nome, existia a substância: o oricalco51, que era extraído em vários locais da ilha, o qual naquela altura era, à parte o ouro, o material mais valioso –, e a floresta fornecia tudo quanto pudesse ser trabalhado pelos carpinteiros. A ilha produzia tudo em abundância, e, no que respeita aos animais, alimentava convenientemente os domesticados e os selvagens, incluindo a raça dos elefantes que nela existia em grande número. [...] Mas quando a parte div...

Bola de Cristal - BaianaSystem

 Cê No tempo que a pedra lascada fazia o papel de bala de metal Não tem diferença do homem moderno pro homem de neandertal A pedra lascada no papel de bala de metal Não tem diferença do homem moderno pro homem de neandertal Ô, minha rosa, meu coração não é bola de cristal Ô, minha rosa, o meu coração não é bola de cristal Não Bola de cristal (O futuro) Bola de cristal (Ninguém vê) Bola de cristal (O passado) Não é bola de cristal (Já passou) Bola de cristal (O presente) Bola de cristal (É você) Bola de cristal (O futuro) Não é bola de cristal (Ninguém vê) Nã-ão, nã-ão Tem quem analisa, tem quem banaliza quem passa no Visa, quem faz a divisa quem fica de cima e não vê Fica de cima e não vê Não tá na TV, não dá pra prever o que vai acontecer Não tá na TV, não dá pra prever o que vai acontecer, ê Aniquila, aniquila o sofrimento da família A energia da família 100 por cento positiva Não esqueça que tem poder para mudar o mundo Você tem poder para mudar o mundo O que é superficial vai f...

Último encontro de 2025 com o tema "Futuro e Tecnologia"

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Se a verdade agora é editável, será a dúvida a nossa única salvação? O IFilosóficos está chegando ao fim... e teremos como tema do nosso último encontro "Futuro e Tecnologia" Acontecerá amanhã quarta-feira (25/06) às 14:00 no lab. 6 para as turmas do matutino, e quinta-feira (26/06) às 10:00 para as turmas do vespertino, também no lab. 6. Junte-se a nós nesse bate-papo filosófico! 

A música e a filosofia no contexto escolar (Revista AlembrA. Vol. 5, N. 11. p. 9 e 10)

Ao abordar o uso da música nas aulas de Filosofia, nos remete a condição de buscar saber qual é a origem dessa reflexão? O que dizem os clássicos, tanto da Filosofia quanto da Educação Musical? Desse modo, alguns questionamentos são inevitáveis: porque trabalhar a música na escola? Mas afinal, o que significa educação musical? Qual é o sentido da educação na concepção dos clássicos da Filosofia? Quais são os efeitos educativos e socioculturais no viver das crianças que trabalham com educação musical? Platão (2000), ao referir-se a Sócrates na obra A República, declara que a música é de suma importância para a formação do homem. Enquanto que a Filosofia permanece com a função de tornar a vida melhor, visto que o conhecimento filosófico nos ajuda descobrir os segredos e as histórias que rodeiam a nossa existência. É pela Filosofia que compreendemos o porquê e a razão de tudo o que existe no mundo, assim sofrermos menos ao lidarmos com os desafios que o cotidiano nos impõe. Portanto, a Mú...

Henri Bergon e a música (A metáfora de Bergson e a nossa escuta musical - Bernardete Oliveira Marantes)

Uma imagem a miúdo usada para exprimir a descrição de continuidade da vida interior bergsoniana é aquela alusiva à música, ao ritmo, e mais frequentemente, à melodia. E buscando auxílio na arte musical, pergunta Bergson: “acaso se pode, sem desnaturá-la, encurtar a duração de uma melodia? A vida interior é exatamente essa melodia” (Bergson, 2006, p. 172). A trilha sonora interior, ou a melodia sucessiva da vida interior, vem a calhar como metáfora, pois, a música exige de seu ouvinte, diferentemente das outras artes, uma atenção à sucessão, visto que há uma temporalidade imanente a sua própria estrutura, já que “o som existe quando existe” (Piana, 1991, p. 141), e a nossa escuta musical só se realiza com o auxílio da memória e no e com o tempo. Desse modo, tomando como guia o categórico pensamento do filósofo, pode-se afirmar, tanto para a música quanto para a vida interior bergsoniana, a existência de uma consubstancialidade temporal manifesta entre o passado e o presente, e o exemplo...

O Nascimento da Tragédia – NIETZSCHE

Da mais elevada alegria soa o grito de horror ou o lamento anelante por uma perda irreparável. Naqueles festivais gregos prorrompia como que um traço sentimenta da natureza, como se ela soluçasse por seu despedaçamento em indivíduos. O cântico e a mímica desses entusiastas de tão dúplice disposição eram, para o mundo greco-homérico, algo de novo e inaudito: a música dionisíaca, em particular, excitava nele espantos e pavores. Se a música aparentemente já era conhecida como uma arte apolínea, ela o era apenas, a rigor, enquanto batida ondulante do ritmo, cuja força figuradora foi desenvolvida para a representação de estados apolíneos. A música de Apolo era arquitetura dórica em sons, mas apenas em sons insinuados, como os que são próprios da cítara. Mantinha-se cautelosamente a distância aquele preciso elemento que, não sendo apolíneo, constitui o caráter da música dionisíaca e, portanto, da música em geral: a comovedora violência do som, a torrente unitária da melodia e o mundo absolut...

O Mundo Como Vontade e Como Representação - SCHOPENHAUER

Após termos considerado até aqui todas as belas artes na generalidade adequada ao nosso ponto de vista, começando com a bela arquitetra, cujo fim enquanto tal é clarear a objetivação da Vontade no grau mais baixo de sua visibilidade em que ela se mostra como esforço regular, abafado e sem conhecimento da massa, já manifestando autodiscórdia e luta entre gravidade e rigidez; - e fechando a nossa consideração com a tragédia, a qual, no grau mais elevado de objetivação da Vontade, traz-nos diante dos olhos justamente aquele seu conflito consigo mesma, em terrível magnitude e distinção; após tudo isso , ia dizer, notam os que uma bela arte permaneceu excluída de nossa consideração e tinha de permanecê-lo, visto que, no encadeamento sistemático de nossa exposição, não havia lugar apropriado para ela. Trata-se da música. Esta se encontra por inteiro separada de todas as demais artes. Conhecemos nela não a cópia, a repetição no mundo de alguma Idéia dos seres; no entanto é uma arte tão elevad...

De Institutione musica – BOÉCIO - (Música em Pitágoras e Platão)

Disso resulta que, sendo quatro as disciplinas matemáticas, as outras se dedicam precisamente à busca da verdade, enquanto a música não só está associada à especulação, mas também à moral. Nada é tão típico da humanidade como relaxar-se com modos doces ou tornar-se tenso com os contrários. E esse fato não se restringe a uma ocupação ou a uma idade específica, mas se difunde por todas as ocupações; além disso, as crianças, os jovens e até mesmo os velhos são ligados aos modos musicais com espontânea disposição, de forma tão natural que, sem exceção, não há idade que seja contrária ao encanto de uma doce canção. Daí, então, pode-se perceber que não é desarrazoado o dizer de Platão: a alma do mundo foi unida de acordo com uma harmonia musical. Consequentemente, quando nosso interior está coeso e convenientemente ajustado, percebemos o que nos sons está ajustado de forma exata e conveniente e nos deleitamos com isso; também comprovamos que nós mesmos somos regidos pela mesma semelhança. Es...

Sobre a Música – PLUTARCO. (Uso da Música pelo Centauro Quíron)

E o nobre Homero ensinou que o uso da música é conveniente para o homem. Pois para demonstrar que a música é útil em muitas ocasiões, apresentou Aquiles digerindo sua ira contra Agamémnon através da música que aprendeu do sapientíssimo Quíron:  e encontraram-no deleitando seu espírito com a [melodiosa fórminge, bela obra de arte; em torno, argênteo jugo havia: escolheu-a dentre os espólios depois de destruir a [cidade de Eétion. Com ela alegrava seu coração e cantava glórias de homens (Ilíada, IX, 186-189.) “Aprende”, Homero está dizendo, “como se deve usar a música: pois era adequada a Aquiles, filho de Peleu, o justíssimo, cantar as glórias dos homens e os feitos dos semideuses.” Mais ainda, Homero, ensinando a ocasião mais apropriada do seu uso a quem está em ócio, mostrou que ela é um exercício útil e prazeroso. Pois Aquiles, apesar de ser guerreiro e homem de ação, por causa da sua ira que surgiu contra Agamémnon, não participava dos perigos da guerra. Homero, então, julgou se...

Força Estranha - Caetano Veloso

Eu vi um menino correndo Eu vi o tempo Brincando ao redor do caminho daquele menino Eu pus os meus pés no riacho E acho que nunca os tirei O Sol ainda brilha na estrada, e eu nunca passei Eu vi a mulher preparando Outra pessoa O tempo parou pra eu olhar para aquela barriga A vida é amiga da arte É a parte que o Sol me ensinou O Sol que atravessa essa estrada que nunca passou Por isso uma força me leva a cantar Por isso essa força estranha Por isso é que eu canto, não posso parar Por isso essa voz tamanha Eu vi muitos cabelos brancos Na fronte do artista O tempo não para e, no entanto, ele nunca envelhece Aquele que conhece o jogo Do fogo das coisas que são É o Sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão Eu vi muitos homens brigando Ouvi seus gritos Estive no fundo de cada vontade encoberta E a coisa mais certa de todas as coisas Não vale um caminho sob o Sol E o Sol sobre a estrada, é o Sol sobre a estrada, é o Sol Por isso uma força me leva a cantar Por isso essa força estranha Por...

3° encontro como tema: "Música e Filosofia"

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  “Sem a música, a vida seria um erro” Nosso terceiro encontro terá como tema Música e Filosofia e acontecerá na próxima quarta-feira (04/06) às 14:00 no lab. 6. Venha participar!